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Diz o ditado popular que o cão é o melhor amigo do homem. No Pantanal, é diferente: o cavalo é o melhor amigo do homem. Mais especificamente o da raça pantaneira. Para compreender essa relação, recorre-se à história: o boi e o cavalo chegaram à América do Sul com os espanhóis no século 16, os quais eram negociados ou tomados pelos povos nativos.

Alguns historiadores citam que, quando Alvar Nuñez Cabeza de Vaca foi nomeado o segundo governador do Rio da Prata, ele deixou a Espanha, em 1540 e desembarcou na ilha de Santa Catarina trazendo alguns cavalos. A expedição visava alcançar as minas do Peru, passando pelo “Mar de Xarayés” – como os exploradores espanhóis denominavam o atual território do Pantanal – assim os desbravadores seguiram pelo Rio Paraguai e, por terra, rumo ao Paraguai e a Bolívia, ocasião em que alguns cavalos foram perdidos na capitania de Mato Grosso.

Aproximadamente em 1543, os índios da região avistaram pela primeira vez esse animal. Outras expedições espanholas trouxeram animais para a região, até a introdução de equinos de origem portuguesa, trazidos de São Paulo a Cuiabá, pelos caminhos de Goiás, no início do século XVIII.

No processo histórico, os indígenas pensavam que cavaleiro e cavalo eram um só animal, até que, quando os desbravadores descansavam, o gentio percebeu que estava enganado. Passaram a furtar animais ou negociá-los, desenvolvendo uma técnica única de doma e montaria que ficou imortalizada no afresco “Carga da cavalaria guaicuru”, de 1822, do renomado artista francês Jean Baptiste Debret, que contribuiu significativamente ao estudo iconográfico da história do Brasil. Na gravura, os guerreiros nativos galopam sobre o costado do Cavalo Pantaneiro, para fugir do alcance da mira inimiga ou mesmo enganar o inimigo, que poderia pensar que a tropa seria selvagem e estaria galopando perdida.

“Carga de Cavalaria Guaicuru” de Jean Baptiste Debret, 1822 | Reprodução Wikipedia

Muitas das práticas de manejo, ainda hoje vistas no Pantanal, vêm dos guaicurus. Os indígenas  cavaleiros deram-se tão bem com o cavalo que criaram um modo próprio de montar, tanto no esporte, como na guerra. 

Antes, porém, em 1795, o rebanho dos índios cavaleiros, como ficaram conhecidos, já era calculado em 8 mil animais pelo coronel Rodrigues do Prado, comandante do Forte Coimbra. Na Guerra com o Paraguai, entre 1864 e 1870, lutaram ao lado dos brasileiros, num regimento pantaneiro formado com cavalos de sua própria criação, tornando-se importante fator militar na defesa da Capitania de Mato Grosso.

No final do século XIX, a raça entrou em declínio principalmente devido a doenças, como a “peste das cadeiras “ e a anemia infecciosa equina. Por isso foi fundada em 1972 a Associação Brasileira dos Criadores de Cavalo Pantaneiro (ABCCP), cuja sede é em Poconé, no Mato Grosso.

Em 1988, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), por meio de seu Centro de Pesquisas do Pantanal (CPAP), implantou um núcleo de criação na Nhecolândia, em Corumbá, na Fazenda Nhumirim.

Em 1989 foi fundada a Associação dos Criadores do Cavalo Pantaneiro do Mato Grosso do Sul, que todos os anos participa da maior feira agropecuária do estado, a Expogrande, com uma programação que visa dar maior visibilidade da raça no mercado.

Na ocasião, os criadores – cerca de 40 associados – levam seus melhores animais para julgamentos morfológicos, situações em que são avaliados por especialistas e valorados por seus atributos físicos, potencializando sua oferta ao mercado.

Também durante a exposição agropecuária, os animais selecionados são postos à prova em competições de laço técnico e tira-boi, que além de mostrar as habilidades dos animais na lida do campo, divertem o público em disputas emocionantes e divertidas. 

Dentre as características que mais se destacam, o Cavalo Pantaneiro suporta intempéries e longos dias de trabalho, tendo cascos resistentes aos terrenos úmidos e sendo rústico, não havendo necessidade de cuidados especiais. No mercado do turismo, sua docilidade é ideal para o trato com turistas. 

O Cavalo Pantaneiro é, segundo pesquisadores, oriundo de cruzamentos de equinos de origem lusitana (Céltico, Barbo e Andaluz), do Árabe e do Crioulo Argentino. Para alcançar esse status, sofreu uma forte seleção natural adaptando-se às condições adversas do ambiente, como os ciclos de cheia e estiagem.

É criado juntamente com os bovinos, alimentando-se das pastagens nativas. Valente e rústico, resistente ao calor, atravessa corixos e baías, sendo um exímio nadador. Suporta jornadas cansativas, resiste a grandes distâncias, enfim, integra definitivamente a paisagem natural da planície pantaneira.

Para conservar e aumentar a qualidade da raça, a Embrapa Pantanal, em parceria com a ACCP-MS, desenvolve pesquisas em manejo, melhoramento genético e sanidade animal, com tecnologias transferidas aos produtores.

Por tudo isso, o Cavalo Pantaneiro é um dos principais representantes de sustentabilidade no Pantanal.